quinta-feira, 28 de outubro de 2010

um apelo à racionalidade [sobre a campanha de José Serra] - 2/3

Seguindo a linha da discussão política real, fugindo de máscaras e de dicotomias "bem contra o mal", seguimos com o texto publicado por José Gabriel Labaki Tomaselli, o Zé, historiador pela UNICAMP e professor da rede pública. A idéia é fomentar uma reflexão sem intolerância nem preconceito: uma discussão política de fato, dos projetos políticos em jogo, das estratégias que estão sendo utilizadas nas campanhas, etc.

Boa leitura,
Alberto Geraissate




A Ficha Limpa do Serra
E a grande mídia fica escandalizada quando a Polícia Federal algema os colarinhos brancos desse Brasil. E a grande mídia não noticia que Serra tem uma denúncia aceita por decisão monocrática por danos ao erário público, improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. Serra continua inocente, pois recorreu e enquanto não for julgado nas altas instâncias do judiciário é inocente. Mas ele já tem uma denúncia aceita em primeira instância. Por que nem a Globo, a FSP, o Estadão, ou a Veja noticiam? Onde está a ficha limpa de Serra, que ele tanto martela em sua propaganda? Imaginem se a Dilma tivesse uma denúncia aceita, o que esses mesmos órgãos de imprensa fariam com ela. E o Serra? Nada.

Essa denúncia foi aceita pela juíza DANIELE MARANHÃO COSTA, da 5ª Vara Federal de Brasília:
O Proer foi um programa implementado no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso para sanear instituições financeiras que enfrentaram dificuldades na virada do período de hiperinflação para o início do Plano Real. Na época, Serra era o ministro do Planejamento. As ações envolvem diversas pessoas que tiveram algum grau de responsabilidade nas decisões relativas ao Proer. Os nomes mais conhecidos são  Serra e do então ministro da Fazenda, Pedro Malan. As ações questionam a assistência prestada pelo Banco Central,  no valor de R$ 2,975 bilhões, ao Banco Econômico S.A., em dezembro de 1994, assim como outras decisões - relacionadas com o Proer - adotadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Conforme verificado, já houve uma decisão monocrática (ou seja, de um único juiz) em favor da denúncia. A juíza Daniele Maranhão Costa, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, considerou que houve dano ao erário, enriquecimento ilícito e violação aos princípios administrativos no caso. 

Volto a dizer, o Serra é inocente. Ele ainda não foi julgado em definitivo. Mas, outras acusações aparecem contra ele, como a do Fabio Bierrenbach. Leiam o que o Maierovicht fala do Serra:

Abaixo tem todas as artimanhas que Serra usou para abafar e impedir as denúcias de serem investigadas.

Além disso, tem todas as acusações envolvendo a Alston, a Simens, o metrô, etc.

E no último debate da Band, a Dilma levantou a bola do Paulo Preto, ex-presidente da Dersa. A revista Istoé publicou a reportagem sobre o sumiço de 4 milhões de reais arrecadados por Paulo Preto - via caixa 2 - para a campanha do PSDB.

Diante da acusação Serra afirmou que não conhece Paulo Preto. No dia seguinte Paulo Preto - ex-presidente da Dersa, responsável pela construção do Rodoanel, eleito engenheiro do ano em 2009, que aparece em fotos e vídeos ao lado do Serra na inauguração-não-inauguração do Rodoanel, e que o Serra não conhecia - afirmou à Folha que Serra o conhece sim, e que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”. O que faz o Serra no dia seguinte? Tem uma retomada de memória fulminante e sai em defesa daquele, que no dia anterior, ele não conhecia.


Ah! A Globo não noticiou. O Globo sim, a Globo não.
Cadê a coerência? Cadê a ficha limpa? Onde está o bem e o mal? Cadê a ética?
Vale tudo?
O Projeto Político
Voltando ao projeto serrista, ele foi o grande incentivador das privatizações da Vale e da Light. Quem diz isso é o FHC:

Não concordo com as privatizações, que o ferrenho petista Elio Gaspari chamou de privataria - e que ocorreu no “limite da irresponsabilidade”, e que se continuasse assim “ia dar m...”. Para os que não sabem frases pronunciadas por integrantes do governo e que participaram das privatizações. Porém, acho que tivemos um ganho imenso na telefonia, por exemplo. Outras foram terríveis, como o modelo de energia, mas volto a afirmar, privatizar faz parte do projeto político de Serra. A Nossa Caixa só não foi privatizada porque o BB comprou, e a CESP não foi, pois após três leilões ninguém quis comprar. Qual o problema de privatizar?

É uma diferença de projeto político. Tenho certeza que os eleitores de Serra são favoráveis às privatizações, que faz parte da diminuição do tamanho do Estado, e, dentro dessa concepção política, permite mais crescimento, melhora da gestão dessas empresas, estimula o investimento privado, acaba com os “cabides de emprego”, etc. Ótimo, é um ponto de vista.

Porém o que faz o candidato José Serra? Afirma categoricamente que é contra as privatizações, que não vai privatizar nada, que inclusive vai reestatizar as empresas públicas que são controladas por interesses partidários e pessoais.  Como o fez no estado de São Paulo:
Há mais de dois anos guardo uma revolta dentro do peito que diante do cinismo e da vilania da direita tucano-midiática não posso mais conter. Melhor do que ninguém, sei o que faz gente como José Serra quando chega ao poder e sinto que tenho obrigação de contar por quê.
Para quem não me conhece, devo explicar que tenho uma filha de 12 anos, Victoria, que sofre de paralisia cerebral (Síndrome de Rett). No início de 2008, a doença de minha filha começou a se agravar. Sintomas como escoliose e crises epilépticas começaram a se pronunciar.
Os médicos nos orientaram a colocar a nossa filha em uma dessas clínicas em que crianças como ela – que, então, tinha dez anos – recebem terapias e estímulos pelo menos 5 dias por semana durante todo o período diurno.
Essas instituições, se privadas, são caríssimas, além da capacidade financeira da minha família. E como os médicos diziam que ou Victoria recebia esse tratamento intensivo ou a sua doença passaria a progredir com maior velocidade, minha mulher, como mãe, apelou ao impensável.
Disseram a Cristina que havia uma instituição municipal de São Paulo que poderia acolher a minha filha e dar a ela o que necessitava, mas que era preciso um “pistolão” para conseguir a vaga e deu o nome de uma vereadora da base do governo da cidade de São Paulo.
Minha mulher entrou em contato com essa vereadora, que se prontificou a interceder por minha filha junto à instituição, mas cobrou de minha mulher que participasse de um ato público com ela.
Minha mulher se recusou, sob minha orientação – entre o pouco que escutou do que lhe avisei ao saber que se meteria com políticos –, mas, em novas ligações, conseguiu que a vereadora indicasse uma instituição.
Em contato com a instituição, foi informada de que, sim, havia uma vaga. Preencheu documentos, apresentou Victoria para que seu estado fosse mensurado e ficou aguardando a liberação da vaga para a menina.
No prazo estipulado, Cristina foi até a instituição já dando como certo a admissão de minha filha porque ela se encaixava perfeitamente no perfil de pacientes que por lá eram admitidos. Contudo, foi informada de que a vaga para a filha teria sido “cancelada”.
Minha mulher nem esperou sair da instituição para recorrer à tal vereadora, mas foi atendida por uma assessora que lhe disse que não teria como interceder por Victoria e que, “de mais a mais”, Cristina não havia revelado que a menina era “filha do blogueiro Eduardo Guimarães”.
Em seguida, a assessora disse que não tinha mais nada a conversar com a minha mulher e desligou. A mãe de Victoria não conseguiu mais falar com essa assessora porque ninguém atendia o telefone. E não conseguiu mais falar também com a vereadora nos dias seguintes.
À época, amigos jornalistas me exortaram a denunciar o caso. Contudo, minha mulher me impediu dizendo que “por causa dessa maldita política a nossa filha estava pagando com a saúde e talvez, futuramente, até com a vida”. E me proibiu de revelar este assunto.
Diante do cinismo de Serra, de seu jogo imundo, Cristina mudou de idéia. Pelo menos me autorizou a contar esta história para que as pessoas saibam que tipo de país teríamos se esse homem chegasse ao poder. Não só por ele, mas também por conta dos que o cercam.

Abandona sua base política, sua história política, sua atuação como ministro, prefeito e governador. Joga tudo fora.

Aí eu pergunto: quem é incoerente? Serra, por que mentes? Ou isso é demagogia? Cadê o valor à vida?
Vale tudo?

O salário mínimo foi reajustado acima da inflação durante todo o governo Lula. Existe um critério para o reajuste real desse valor, e é muito simples: a inflação mais o crescimento econômico de dois anos antes. Esse critério foi estabelecido após a pressão da oposição, liderada nesse caso pelo Agripino Maia, senador reeleito do DEM, pois a base aliada de Serra estava preocupada com os custos dos aumentos do salário mínimo. Esse acordo foi bom para o país, pois a inflação significa perda de poder aquisitivo dos salários, por isso o reajuste, porém, o crescimento econômico significa aumento de arrecadação, que se repassado na mesma proporção para o salário mínimo, garante aumento real do valor dos salários, sem colocar em risco as contas públicas. Foi proposta da oposição, um acordo político.

O que faz o candidato Serra diante desse acordo? Joga fora, rasga, e estabelece um critério só dele. Qual o critério? Pergunte para a base aliada dele, qual o critério? Serra, qual o critério? Aumentar o salário mínimo para R$ 600,00 é uma conta que apenas o candidato sabe qual é. Aumento para R$ 600,00? De onde vem esse valor? Do nada?
Quem é populista?
Vale tudo?

A esposa do Serra - a mesma que disse que a Dilma é “matadora de criancinhas” e que afirmou que “a questão do gênero está superada” (...) “Os eleitores de Serra precisam saber que ele não chega sozinho, mas com a família e seus princípios e valores”. - afirmou que “As pessoas não querem mais trabalhar, não querem assinar carteira e estão ensinando isso para os filhos”. O Jarbas Vasconselos chamou o Bolsa Família de “grande compra de votos”. A oposição chegou a chamar o programa de “Bolsa-Esmola”. A base aliada de Serra sempre foi contra o Bolsa Família. Muitos eleitores pensam dessa forma. E tudo bem, é um ponto de vista. Muitos consideram o programa assistencialista, paternalista, populista, que compra votos, seja lá o que for. Tudo bem. Mas o que faz o candidato Serra? Promete dobrar o número de famílias beneficiadas pelo programa e ainda promete um 13º salário. 13º salário? E as contas públicas? Qual o critério? Por que abandonar sua base aliada e os eleitores que votam no Serra por discordarem do Bolsa Família?
Serra vai passar por cima de sua base? De seus eleitores? Ou isso é demagogia?
Quem é o populista?
Vale tudo?

E o aumento para os aposentados? No governo do SP, Serra criou a SPPREV, para racionalizar as aposentadorias, utilizar a gestão e a boa governança. Busca um equilíbrio entre receitas e despesas de forma a equalizar as contas públicas. Em 2009 o aumento para os aposentados de São Paulo foi ZERO. Em 2010 foi de 3%. E o que faz a campanha de José Serra? Promete 10% de reajuste para os aposentados. Simples assim, 10%. Aposentados que receberam 7% esse ano. E as contas públicas? E a boa governança? E a gestão?
Quem é o populista?
Vale tudo?

Enquanto escrevo esse texto vejo na GloboNews que o TSE impede a divulgação de dados de pesquisa no horário eleitoral de Serra, do dia 12 de Outubro, programa no qual Serra afirma que deve “prevalec[er] o dever de falar a verdade”.

A Globo não deu. A Globo só dá o que favorece o Serra e esconde tudo que o prejudica.
Vale tudo?
Serra e a imprensa
A liberdade de imprensa é pilar fundamental para os sistemas democráticos. Tanto é assim, que nenhum país ocidental - à exceção dos EUA depois do Bush, e do Brasil - permitem que o dono de veículo de comunicação seja o proprietário de outro veículo. Ou seja, se você é dono de uma rádio, não pode ser dono de um jornal, ou de uma TV. Se você é dono de uma TV não pode ser dono do jornal. Em nenhum país democrático do mundo isso é permitido, com exceção dos EUA e do Brasil. Essa regulamentação visa evitar o monopólio da informação e o controle das notícias. Na Itália o Berlusconi só não é processado porque inventou uma lei que impede o 1º ministro de ser acusado, lei que está para ser julgada inconstitucional. Na Inglaterra a BBC pode, mas a BBC é estatal, e portanto é uma porcaria de um órgão de imprensa, utilizado pelos governos para noticiar apenas o que interessa para eles.

No Brasil, quatro famílias dominam - ou dominavam - a informação no Brasil: A família Frias, dona da FSP, a família Mesquita, dona do Estadão, a família Civita, dona da Abril (Veja) e a família Marinho, dona da Globo. Os baluartes da liberdade de imprensa. A chamada grande mídia sempre foi contra qualquer governo popular no Brasil, que insistem em chamar de populista. Bastam alguns exemplos: A FSP fornecia para a operação bandeirantes, seus carros para transporte de presos políticos que foram torturados nos porões da ditadura - que por sinal chamou de ditabranda. A FSP moveu ação contra o site humorístico falhadesãopaulo.com.br, pois esse utilizava a marca da Folha, não dá mais pra ler. Porém, o que o site fazia era tirar um sarro da absurda imparcialidade de seu jornal, apesar de ter inclusive um ombudsman. O que faz a Folha? Move um processo, pois não aceita ser criticada. Cadê a liberdade?

A Globo, que demitiu o Franklin Martins nas eleições passadas, simplesmente ignorou o acidente do avião da Gol em 2006, que matou 187 pessoas. Por quê? Porque naquele dia houve o escândalo dos aloprados. A morte de 187 pessoas não era notícia, os aloprados eram. Hoje, dia 13 de outubro, o JN só fala do resgate dos mineiros chilenos, que de forma maravilhosa estão sendo resgatados. É emocionante assistir. Porém a Globo fala do resgate esse ano, e não fala do acidente da Gol em 2006. Por quê? Porque ela esconde o Paulo Preto. Ela esconde os 4 milhões. Ela esconde o caixa 2 do PSDB. Ela esconde a vaia do Serra. Ela só fala do que favorece ao Serra e esconde tudo o que o prejudica.

Até hoje, dia 14 de Outubro, a Globo não falou nada do Paulo Preto. Nada. Silêncio absoluto. Ele não existe para a Globo.

E o Estadão? O Estadão troca articulistas. É só a Maria Rita Khel escrever um artigo que vai contra os interesses do Estadão de eleger o Serra e o que acontece? Ela é demitida.

E a Veja? A Veja não merece comentários.
“Desde 2004, especialmente de 2007/2008 em diante, a FDE pagou no mínimo R$250 milhões (R$248.653.370,27) [valores não corrigidos] à Abril, Folha, Estadão, Globo/Fundação Roberto Marinho”, denuncia NaMaria, do NaMaria News , ao Viomundo. “A maioria sem licitação.”
Coincidência, não?

Poderia citar inúmeros exemplos mais, mas vou ficar no tratamento dado por essa mídia a candidatos dessa eleição que lutaram contra a ditadura: Dilma Rousseff, Aloysio Nunes e Fernando Gabeira. Os três fizeram parte de grupos que utilizaram a luta armada contra o regime opressor, que a Folha chamou de Ditabranda. O Aluysio fez parte da Aliança Nacional Libertadora, o Gabeira sequestrou o embaixador americano - escreveu o livro Que é isso companhiro? Que virou filme e concorreu ao Oscar - e a Dilma participou da VAR-Palmares. Parabenizo os três por terem lutado contra a ditadura - que sempre é dura, nunca branda. Lutar pela liberdade e pela democracia deve sempre ser motivo de orgulho. Porém, qual o tratamento dado pela grande mídia aos três candidatos? A dilma é guerrilheira, pegou em armas, bandida, etc. Por que a Folha insiste tanto em ter acesso aos arquivos de Dilma? Alguém chamou o Aluysio ou o Gabeira de terrorista, assassino? 

Não! Porque a grande mídia apóia o Serra, tem lado, não é imparcial, e faz de tudo para instaurar o medo. Medo, preconceito, intolerância... Essas são as estratégias do Serra.

Mas como o Serra trata a mídia? Se a mídia o afaga tudo bem. Inclusive pede desculpas para jornalista da Globo, após - como sempre faz quando recebe perguntas que não gosta - agride jornalistas. Em entrevista (entrevista?) à jornalista Miriam Leitão na Rádio CBN, Serra partiu para a truculência, quando perguntado sobre a autonomia do Banco Central:

E o pior de tudo é que eu concordo totalmente com o Serra. Mas cadê a autonomia do BC? Essa é a forma de tratar os jornalistas?

Se olharmos na internet veremos dezenas de vídeos de Serra atacando, agredindo repórteres que fazem perguntas incômodas para o candidato. Quando perguntado sobre os pedágios, pelo Heródoto Barbeiro no Programa Roda Viva teve a reação truculenta e intolerante de sempre:

E o que aconteceu com o Heródoto depois? Foi afastado do Roda Viva, hoje apresentado pela Marília Gabriela. Mas, ele vai reestatizar as empresas estatais, não haverá interferência na gestão das empresas públicas. E o que ele faz quando é perguntado sobre os pedágios? Afasta o Heródoto. Ah, não foi ele, foi o Sayad. E não foi só o Heródoto. O Priolli também foi demitido.

Cadê a coerência, cadê a liberdade? Cadê a ética?
Vale tudo?

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