quinta-feira, 19 de julho de 2007

publicidade, sociedade de consumo e as coisas como estão (resenha)

Rotular, definir e classificar são sempre tarefas complicadas, porque significa limitar, circundar. Sendo a publicidade uma ciência (humana), e a ciência sendo - em tese - ilimitada, rotulá-la como carro chefe das mudanças verificadas nas diversas esferas do comportamento e da mentalidade dos receptores corre no mínimo o risco da imprecisão. Mas não vou me deixar deter por questões existenciais.

O que quero dizer é que não me sinto à vontade tomando um partido, por mais convicto que esteja, pois pontos-de-vista são necessariamente relativos. Tentarei, então, avaliar os dois lados a partir de uma mesma frase do senso comum, ora inalterada, ora invertida.

A vida imita a arte. Vamos tomar, nesse caso, a arte como sendo a publicidade e a vida como sendo as relações sociais dominantes estabelecidas no Ocidente. Quer dizer que tendemos a imitar o que vemos na TV, assim como acontece quando lemos um livro, vemos um filme, ou mesmo observando o que se passa ao nosso redor. Creio que tendemos a associar algo que está sendo reproduzido como sendo o correto, uma maneira comum e segura de se pensar e agir. Realmente acreditamos que quem toma Skol® vai às melhores festas, onde só há gente bonita e que se dá bem no final. Aliás, acho que a própria cerveja, independente de marca, virou símbolo de juventude e virilidade, da confraternização social: o bar é o lugar onde esquecemos quem realmente somos e vivemos a ilusão transmitida justamente pelos comerciais (ou será o contrário?). Será que estou subestimando o senso crítico da sociedade pós-moderna? Há algum tempo atrás, eu diria que isso é sim subestimar-nos. Mas cada vez mais percebo que nossas fraquezas nos levam a buscar seguras fortalezas de caráter/personalidade classificáveis em grupos.

Por outro lado, estabelecer um padrão de costumes não é algo que se faz de repente. Aí sim seria subestimar demais nosso senso crítico. Não é só colocar algo na tela que todos (ou alguns) passam a agir/pensar dessa maneira. A arte imita a vida. Creio que para transmitir ideologias por esse modo exige uma profunda análise sobre quais arquétipos nós - receptores - temos como base, pois assim pode-se estimar quais fatores serão permeáveis à rede de pensamentos da sociedade de consumo e quais serão filtrados. Ou melhor, o que provavelmente será bem aceito e o que será rejeitado.

A publicidade, sendo um braço da mídia (comunicação de massa), é carro chefe não de mudanças do comportamento social comum, mas reitera as "verdades" pré-estabelecidas, transformando-nas na base do pensamento, ou melhor, da ideologia dominante. Será à toa que tantas pessoas tenham tantos interesses em comum?

adaptação de resenha realizada na disciplina Cinema Publicitário, profª Angelita Bogado - maio/2004 , em cima da frase:

"A publicidade (...) é a mola mestra das mudanças verificadas nas diversas esferas do comportamento e da mentalidade dos usuários/receptores ou ao contrário, não influencia nos costumes sociais, apenas os reflete, portanto, jamais se constitui como carro chefe de mudanças significativas?"

Eis as anotações que ela fez ao ler a resenha (muito interessantes):
  • "A consciência que tenho de mim passa pela consciência que o outro tem de mim" - M. Bakhtin
  • O eu é (a)sujeitado pelo outro
  • A publicidade assinalou muito bem esta engrenagem - o consumo passou a ser critério de aceitação

2 comentários:

Anônimo disse...

A publicidade e o que se vê nela é apenas reflexo de uma sociedade e sua cultura. Ao contrario do que podem crer alguns, a publicidade não transforma comportamentos , mas sim identifica tendências e as reinteram afim de que um target identifique-se com o conceito veiculado e o produto. De outra maneira ela não seria eficiente.
O consumo, ou posse de bens, sempre foi sinônimo de aceitação. A publicidade apenas aproveitou-se dessa condição para vender. Mas não a inventou ou instituiu esta tendencia.

Anônimo disse...

Bel...eu discordo de você!
A publicidade usa de meios minuncioso para alcançar seus objetivos, meios que ultrapassam a barreira etica de respeito ao livre arbitrio. Quando digo isso, me apoio sem suas teorias basicas pesquisa e de colocação de produtos. Os proprios publicitarios, no desenvolvimento de suas estratégias usam termos como: Influenciar, fim incondicional, criar necessidades, criar vontades, vender, criar razão de compra.
Só neste prioncipio fica facil nortar. Mas por um outro lado o homem por si só cria essa publicidade pra si proprio...por tanto não deixa de ser algo natural...Os que não podem acompanhar são os que se dão mau...Ai entramos em questõe sociasis que tem totalmente a ver mas seria extender muito o assunto para o espaço aqui....
Por isso existem varios lados , mas ao meu ver e ao que eu estudei , compreendo a publicidade como um verdadeiro criador de necessidades...até porque como animais que somos , não precisamos de 99% das coisas que temos , mas achamos que precisamos , e isso porque??? Publicidade é a resposta.
Valeu...

Raphael Taricano

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